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Operação do Nurce mira mega quadrilha de falsificação de cigarro que atua em todo o Brasil

20 de setembro de 2017 - 20:05

Uma mega quadrilha de falsificadores de cigarro foi presa nesta quarta-feira (20), durante a Operação “Sem Filtro”, deflagrada pelo Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce), da Polícia Civil do Paraná. A ação policial aconteceu em quatro estados: Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Foram descobertas duas fábricas clandestinas que produziam os cigarros falsificados.

Treze pessoas foram presas e três são considerados foragidos. Em 19 mandados de busca foram apreendidos uma BMW, o ônibus usado por uma dupla sertaneja de Londrina, celulares e documentos que serão analisados dando sequência ao trabalho policial.

De acordo com a investigação do Nurce, que durou um ano, o chefe desta quadrilha é Clodoaldo José de Siqueira. Aldo, como ele é conhecido, foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) em 2000 pelos crimes de contrabando, depois de ser preso com várias caixas de cigarros contrabandeadas do Paraguai encontrado dentro de sua Kombi. Até hoje, os únicos bens em seu nome foram essa Kombi e um reboque, ano 2005.

“É uma fraude milionária, o potencial financeiro dessa quadrilha é enorme. O Clodoaldo, que foi preso hoje como líder da organização, em 2000 foi preso com uma mula de contrabando – uma Kombi de cigarros – e hoje em dia ele é dono de um império – são duas fábricas e duas gráficas”, afirmou o secretário da Segurança Pública e Administração Penitenciária, Wagner Mesquita

Mesquita também ressaltou a parceria com outros órgãos de segurança. “O Nurce, através e uma equipe altamente treinada e especializada em crimes de lavagem de dinheiro e crimes financeiros, trabalhou muito próximo da Receita Federal, com os órgãos de inteligência da Receita, e conseguiu identificar o modo de trabalho, o caminho do dinheiro e o modus operandi da quadrilha. Então hoje, só em apreensões, temos a perspectiva, nesse momento, de quase R$ 20 milhões em bens apreendidos”, completou.

As investigações demonstram que Aldo parou de contrabandear cigarros do Paraguai e passou a produzir em território nacional, eliminando assim o produtor e intermediários, aumentando significativamente seus lucros, uma vez que falsifica principalmente as marcas paraguaias, dando ênfase à classe baixa, a qual consome as marcas mais baratas.

Toda estrutura para a fabricação é feita pela organização, desde a compra da matéria prima, a falsificação dos papéis, a fabricação dos cigarros e o transporte do produto final. Todas as condutas são aparelhadas pela mesma organização, sem intermédio de terceiros.

“A estimativa é de que apenas uma máquina produza 10 mil maços por dia. Sendo assim, a estimativa de sonegação de tributos federais seja de R$ 90 milhões ano. A receita vai levantar o patrimônio localizado nas buscas e a ideia é garantir esse credito tributário e reaver um pouco do dinheiro arrecadado”, explicou a auditora fiscal da Receita Federal de Minas Gerais, Viviane Lopes Franciscani. A quantidade de maquinas ainda está sendo apurada.

De acordo com o delegado do Nurce, Renato Figueiroa, a quadrilha era basicamente dividida em três núcleos: o da fabricação do cigarro, que ficava inicialmente na Bahia e depois se transferiu para Minas Gerais; o das gráficas, concentradas em São Paulo; e o da lavagem de dinheiro, na cidade de Londrina. Aldo era a única pessoa que tinha ciência de toda logística envolvendo a produção e comercialização da fábrica clandestina de cigarros.

“Um ano de investigações onde conseguimos comprovar que a pessoa de Clodoaldo José de Siqueira, ex morador de Londrina, é o líder de uma grande organização criminosa, a qual possuía gráficas no estado de São Paulo, onde são confeccionados os papéis e plásticos para a montagem dos maços de cigarros”, explicou Figueiroa.

Em Minas Gerais, acrescenta, eles montaram duas fábricas clandestinas onde falsificavam os cigarros paraguaios e posteriormente distribuíam para o país. As investigações apontam que os recursos ilícitos eram lavados por intermédio da empresa F&R produções artísticas, a qual agencia uma dupla sertaneja em que um dos cantores é filho do chefe da quadrilha. Dez paraguaios trabalhavam de forma irregular nas fábricas clandestinas.

IMPÉRIO – Se no papel, os bens eram escassos, na prática Aldo levava uma vida luxuosa e detinha um patrimônio milionário. A residência em que ele mora e onde foi preso, fica em um condomínio de alto padrão na cidade de Santana do Parnaíba, interior de São Paulo. A casa está avaliada em mais de R$ 3 milhões. Outro exemplo do poderio financeiro da quadrilha foi a compra de seis terrenos em um condomínio de luxo em Londrina. Em um único dia, 17 de novembro de 2015, Aldo comprou os imóveis por R$ 6,5 milhões. O pagamento foi feito em dinheiro.

A investigação do Nurce aponta que ele é suspeito de possuir um império. Ele seria dono de ao menos duas enormes fábricas clandestinas de cigarro no estado de Minas Gerais, na região da cidade de Montes Claros, sócio e proprietário oculto de oito barracões em São Paulo onde funcionam as gráficas que a quadrilha utiliza para a falsificação das embalagens dos cigarros, e ainda sócio na empresa F&R Produções LTDA em Londrina. A suspeita é que esta empresa seja usada para lavagem de dinheiro.

A F&R produções tinha como principal atividade a divulgação de uma dupla sertaneja. Um dos cantores é Rafael Francisco Frare Siqueira – um dos filhos de Aldo. Ele é um dos presos** da operação “Sem Filtro”. A polícia salienta que o cantor que faz dupla com Rafael não tem qualquer envolvimento com o esquema criminoso.

A polícia suspeita de que Aldo montou uma megaestrutura para promover seu filho Rafael na música sertaneja. Segundo o Nurce, era uma forma encontrada para lavar o dinheiro obtido de forma ilegal com a produção e venda de cigarros falsificados. Apesar dos poucos shows do filho, toda a estrutura de funcionários da F&R era bancada por Aldo. Rafael detinha 79% das ações da produtora.

Mostra disso é que, mesmo com pouca capacidade financeira, recentemente Rafael adquiriu um veículo importado modelo “BMW 320I M SPORT ACTIVFLEX”. O veículo foi comprado pelo valor de R$ 173,8 mil e, o que chamou a atenção dos policiais, foi a forma de pagamento: cinco recibos do banco com o vencimento no mesmo dia (14/6/2016).

Para o Nurce, esta manobra, em fazer pagamentos de vários boletos com a data de vencimento iguais, serve para despistar pagamentos em dinheiro, forma de ‘maquiar’ a transação bancária para lavagem de dinheiro.

Quatro meses após a compra da BMW, os investigadores descobriram mais uma aquisição de Rafael: um ônibus Volvo/MPolo Paradiso LDR, que era usado por uma grande dupla sertaneja do Brasil. O valor pago foi de aproximadamente R$ 300 mil.

O ônibus, assim como a BMW de Rafael, está entre os bens apreendidos, pelo Nurce por decisão judicial. Ao todo são 19 veículos, entre eles caminhões, usados pela quadrilha para transportar os cigarros falsificados, e veículos de luxo como moto Harley Davidson, Land Rover e Toyota Hillux. Além dos automóveis, foram bloqueados ainda os cinco terrenos comprados por Aldo em um condomínio de luxo em Londrina no valor de R$ 6,5 milhões.

Por ordem judicial, ainda foram bloqueadas as contas bancárias de quatro pessoas e de duas empresas. Entre as contas bloqueadas está a do chefe da quadrilha. Serão bloqueados os valores encontrado nas contas até o limite de R$ 10 milhões – o total está sendo apurado.

A Operação “Sem Filtro”, que aconteceu em dez cidades de quatro estados do país, reuniu mais de 100 policiais, além de 31 fiscais da Receita Federal. Participaram da ação policiais civis do Nurce, do Cope, do Tigre, Nuciber, da DFR, e da subdivisão de Londrina, além da Polícia Civil de São Paulo, com apoio do GOE (Grupos de Operações Especiais), da Bahia e de Minas Gerais.

O delegado-geral da Polícia Civil, Júlio Cézar dos Reis, parabenizou os policiais pelo trabalho. “Ressalto a importância da integração com outros órgãos e também parabenizo pela agilidade que foram realizadas as prisões dos envolvidos. Mais uma ação que mostra que a polícia atua com muito rigor no combate ao crime”, afirmou Reis.

PRESOS — Além de Aldo e Rafael, foram presos ainda Jairo Luiz May, tio de Clodoaldo e considerado um “faz tudo”. Percival Colatrella Gomes, proprietário e sócio de duas gráficas com Aldo. Outro detido é Daniel Alves de Oliveira, que respondia pela fábrica de cigarros na Bahia agora pelas fábricas de Minas Gerais. Ele é homem de confiança do chefe da quadrilha. Foi quem recebeu carta branca para comprar duas fazendas em Montes Claros para a organização montar duas fábricas de cigarro.

Cloy Borges Reitmann, preso na operação, seria o responsável por emprestar a conta bancária para Aldo injetar recursos na F&R Produções. Além disso, cedia o nome para transferir veículos e telefones. De acordo com a investigação, só em 2015 Cloy movimentou pouco mais de R$ 1,4 milhão.

O casal Mateus Saldanha Fabbri e Juliana Franchello Ortiz tem relação direta com a F&R Produções. Ele figura na empresa como sócio, dono de 20% das ações. Juliana é responsável pela contabilidade. A suspeita da polícia é de que eles se beneficiam do dinheiro de Aldo injetado na produtora. Recentemente o casal adquiriu dois apartamentos em área nobre da cidade de Londrina.

Luana Aparecida Figueiredo de Souza foi presa suspeita de ser sócia de Aldo na fábrica na Bahia. Ela era mulher do sócio de Aldo, mas com a morte dele, Luana assumiu a função. Foi quem convenceu o líder da quadrilha a mudar o endereço das fábricas de cigarro da Bahia para Minas Gerais, pois suspeitava de que seriam descobertos pela polícia.

Cristiano Figueredo de Souza, irmão de Luana, é o contato principal que Daniel tem entre os operadores das fábricas e foi quem ajudou na mudança da fábrica para Minas Gerais. Ele continua foragido.

Adriano Meira de Souza, vulgo “Diga”, é cunhado de Luana e trabalha diretamente na fábrica. Ajudou no transporte de maquinários para a nova fábrica.

Valdenir Walk seria um dos motoristas que transportam cigarro falsificado da fábrica de Aldo. Reginaldo Alves, conhecido como “Tilica” seria o responsável por chefiar uma das gráficas do chefe da quadrilha, no estado de São Paulo. Já Alexandre Basilio Torres e Demócrito Tenório de Oliveira (foragido) teriam envolvimento com a fabricação das embalagens dos cigarros falsos. Também está foragido um homem de apelido Peru, que trabalhava em uma das fábricas e fugiu junto com Cristiano Figueredo de Souza.

Redação Agora1
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