Paraná tem primeiro professor indígena com mestrado
A educação do Paraná teve uma importante conquista no mês passado ao graduar o primeiro professor indígena com curso em nível de mestrado, pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Florêncio Rekayg Fernandes, professor concursado da rede estadual de ensino, defendeu a tese de dissertação Formação e Atuação de Professores Pedagogos Indígenas no Paraná.
A trajetória acadêmica do professor caingangue reúne importantes avanços pessoais e também para os povos indígenas do Paraná. Florêncio é natural da Terra Indígena Rio das Cobras, em Nova Laranjeira, na região Centro-Sul, onde estudou até o 4° ano do ensino fundamental. “Na minha época não tínhamos o ensino médio nas aldeias e precisávamos sair para estudar. Para o estudante indígena que sai da aldeia, o principal obstáculo é o idioma”, contou ele, que foi alfabetizado primeiro na língua materna e em seguida na língua portuguesa.
Superando as dificuldades do idioma, ele concluiu o ensino fundamental, médio, curso de Magistério e ingressou na faculdade de Pedagogia. Florêncio também se tornou o primeiro indígena do Paraná a assumir um concurso público estadual, em 2012. Antes de iniciar o mestrado, concluiu três especializações, todas focadas no processo de ensino e aprendizagem indígena. “A minha vida sempre foi dedicada à educação indígena, então nada mais justo do que desenvolver novas pesquisas que possam contribuir para a valorização da cultura, principalmente a língua, e para a educação dos povos indígenas do Paraná”, destacou o professor.
EXPERIÊNCIA – Já são mais de duas décadas dedicadas a educação e a pesquisas acadêmicas. A experiência acumulada ao longo dos anos contribuiu para a confecção do material didático nas línguas guarani, caingangue e em português utilizado na alfabetização dos alunos indígenas paranaenses e também para reforçar o uso das línguas maternas e manter viva a cultura linguista dentro dessas comunidades.
O material foi elaborado com as equipes do Departamento de Educação, Diversidade e Direitos Humanos da Secretaria de Estado da Educação. “É importante que pesquisadores indígenas estudem e desenvolvam propostas para a educação indígena”, frisou Florêncio.
REDE ESTADUAL – Para garantir que os estudantes indígenas sejam alfabetizados dentro de suas comunidades e em suas línguas maternas, a Secretaria de Estado da Educação desenvolveu uma série de ações nos últimos anos.
Uma delas é a formação de novos professores indígenas. Hoje a rede estadual conta com 232 profissionais que lecionam na educação infantil nas 37 escolas indígenas do Paraná, para mais de cinco mil alunos. Número bem superior aos 31 docentes indígenas que atuavam em 2011.
O governo estadual também trabalha para garantir aos estudantes escolas de qualidades e adequadas à necessidade e à cultura de cada etnia dentro de suas próprias aldeias. Já foram entregues 13 novas unidades.
PARANÁ NA FRENTE – A rede estadual de ensino também conta com a primeira doutora quilombola do Brasil. A professora Edimara Soares terminou o doutorado em 2012 na Universidade Federal do Paraná (UFPR), ao defender a tese Educação Escolar Quilombola: Quando a Diferença é Indiferente.
Edimara dedicou quatro anos aos estudos, sendo dois de pesquisa de campo nas escolas estaduais quilombolas do Paraná e nas comunidades do Vale do Ribeira, Palmas e Guaíra.
O Paraná conta com duas escolas estaduais que funcionam dentro de comunidades quilombolas, o Colégio Estadual Quilombola Diogo Ramos, na comunidade João Surá, em Adrianópolis, e a Escola Estadual Quilombola Maria Joana Ferreira, na comunidade Adelaide Maria da Trindade Batista, em Palmas. Outras 43 escolas estaduais atendem alunos que moram em comunidades quilombolas. O Paraná tem 37 comunidades certificadas pela Fundação Cultural Palmares, órgão do governo federal, como remanescentes de quilombos.
A superintendente da Educação, Fabiana Campos, destacou a importância da formação desses professores para os avanços da educação no Paraná. “A dedicação e preparação desses profissionais vai refletir na qualidade do processo educacional nessas comunidades com novos conhecimentos científicos e novas metodologias de ensino”, disse a superintendente.